terça-feira, 25 de maio de 2010

"Lost" é o início da tevê colaborativa

Divulgação / Josh Holloway em cena de
Josh Holloway em cena de "Lost"

Embora a pirataria em massa de Lost possa parecer prejudicial para a indústria do entretenimento, foi de fato um dos principais motivos do sucesso do seriado. Lost avançou sobre o modelo ultrapassado de transmissão de tevê, que obriga o espectador a correr à tevê em dia e horário específicos. Desde a invenção da televisão, no final dos anos 40, esta é a única característica do meio que permanece imutável.
Por enquanto.

A principal contribuição de Lost para a mecânica do broadcast foi o salto de fé em eliminar alguns mecanismos tradicionais de difusão. Sem a obrigatoriedade de segurar o público em casa em um dia de semana à noite, Lost se libertou para criar inovações narrativas que devem ser reproduzidas no futuro próximo.

A tábua das leis de um roteiro de seriado ordena que cada episódio tenha uma história concluída no mesmo capítulo (o que os roteiristas chamam de “arco narrativo fechado”); mas que agregue informações para a longa trama, aquela que só se encerra no fim do seriado. Lost eliminou os arcos menores e se concentrou apenas na grande história. Só é possível entender o seriado assistindo a todos os episódios ordenadamente. É um avanço inclusive sobre telenovelas, que tem núcleos de personagens nascendo e amadurecendo ao longo de toda a saga.

Os produtores só puderam fazer isso porque em 2004, quando o seriado começou, as mídias de suporte já estavam desenvolvidas a ponto de guiar o seguidor confuso. A internet - com seus downloads, fóruns de discussão e bancos de dados colaborativos - amparou o espectador de uma história que desde o início abandonou linearidade, verossimilhança e convenções de gênero.

Restrita apenas à tevê tradicional, Lost se tornaria um emaranhado intransponível e afugentaria a audiência. Servindo-se da rede (ainda que o conteúdo tenha sido pirateado), Lost pôde desengessar o eixo emissor-receptor e criar uma comunidade em torno de si.

O episódio especial final é resultado desta experiência coletiva em torno dos mistérios da trama. O prazer ou a frustração que a resolução do mistério vai provocar dependerá menos das opções dos produtores e mais do horizonte de expectativa de quem assiste.

Osny Tavares  , Gazeta do Povo

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